quinta-feira, 15 de abril de 2010

Comércio Exterior: O avião e o futuro

Samir Keedi

Desde 1997, vimos defendendo uma ideia que à época parecia um nonsense a todos. Menos a nós, sozinhos na arena com os leões-marinhos. Que é o modo aéreo como o futuro do transporte. Embora isolados na defesa do transporte aéreo, como aquele que mais cresceria, relativamente, nas décadas seguintes, não abandonamos a ideia que nos parecia lógica. E ainda hoje estamos convictos disso.

Bem sabemos que o modo aéreo é ainda bastante caro em relação aos demais. Mas tudo pode ser uma questão de tempo. De utilização intensiva.

Com o tempo, começamos a verificar que estávamos no caminho certo. E era o tipo do desafio ótimo a desenvolver. De tal forma que continuamos insistindo na ideia, que virou capítulo do nosso livro Logística de transporte internacional, hoje na 3ª edição. E mantendo o capítulo cada vez mais como uma certeza viva. E que ensinamos em cada uma das nossas aulas de transporte e logística.

Embora o transporte aéreo tenha sofrido um forte revés com a derrubada das torres gêmeas em 2001, continuamos firmes na ideia. Acreditando em sua viabilidade. Em colocar em cheque o navio, tradicional e consolidado. E já frisamos que não somos contra ele, muito pelo contrário. É que sonhamos com processos logísticos cada vez mais eficientes.

Entendemos que um processo eficiente tem diversas características, entre as quais o tempo de entrega. O Homo sapiens procura cada vez mais eliminar estoques, seja por meio da produção como da entrega imediata. Na produção, isso já é muito usado há décadas. De tal forma que muitas empresas nem mantêm estoque de matéria-prima, num risco calculado. E pouco estoca produto acabado. Da mesma forma no destino final. Mas há o meio. O transporte e turismo da carga. O custo financeiro envolvido.

Existem milhares de navios no mundo. De todos os tamanhos e tipos. Pode-se imaginar o estoque portuário e marítimo envolvido. Com um comércio mundial anual de mais de 30 trilhões de dólares, falamos em cerca de 82 bilhões de dólares/dia. Numa viagem média de 30 dias, calcule-se o valor parado.

O avião pode ser a forma de se extinguir esse desperdício. Quanto ao frete aéreo, hoje considerado caro, deve seguir a mesma tendência do marítimo, sendo mais intensamente utilizado. Quem, como nós, está na área há cerca de quatro décadas sabe bem o que ocorreu com os fretes marítimos ao longo do tempo. Com o crescimento dos navios, com mais carga transportada, os fretes caíram drasticamente. O mesmo deve ocorrer com os aviões, conforme seu crescimento. Tanto com a economia de escala na construção do avião, quanto com a maior quantidade de carga.

Desde nosso primeiro pensamento, estamos imaginando aviões com 2.000 ou 3.000 toneladas de capacidade de carga, o que não é impossível. Ainda durante a 2ª Guerra Mundial, transportavam cerca de 2 toneladas apenas. Na década de 80, o Boeing 747 veio com capacidade para 100 toneladas. Afora os Antonov AN124 para 140 toneladas e o AN225 Mria para 250 toneladas, já existentes há décadas e que só precisam ser reproduzidos.

De carreira, já temos o Airbus A380 para 150 toneladas de capacidade de carga, não existente à época de nossos primeiros devaneios. Os aviões estão crescendo. Quanto mais se usar, mais vai ficar barato.

Quanto a dois mitos que existem no mercado e que estamos tentando quebrar, que são capacidade de carga e frete, temos o seguinte:

O espaço do avião será sempre estaticamente menor. Porém, na rotatividade, a diferença pode ser compensada. Enquanto o navio faz uma viagem, o avião pode fazer dezenas, reduzindo a diferença ou até passando-o.

Para o custo temos a dizer que nunca se deve comparar frete com frete de cada modo, mas custo com custo, de ponta a ponta. Os aeroportos, em geral, são mais pertos, as embalagens podem ser diferentes, o seguro aéreo é mais barato. Mais a questão dos estoques e turismo da carga no mar etc. Tudo somado, pode-se ter alguma surpresa agradável.

Afora o uso logístico do avião. Como aquele realizado por uma empresa gaúcha em 2002, que enviou 37 caminhões, montados, ao Equador. Sem onerar o frete, apenas combinando frete de retorno com a empresa aérea que trouxe carga da Europa e voltaria com o avião vazio de Curitiba. Os veículos foram transportados em menos de 4 horas, contra 45 dias de navio. Não há competidor que vença uma concorrência em outro país com o seu concorrente agindo assim, com logística inteligente.

Claro que temos restrições, que é a carga a granel. Mas entendemos que para a carga geral será inevitável.

Samir Keedi
Economista com especialização na área de transportes internacionais.
Fonte: http://www.aduaneiras.com.br/noticias/artigos/default.asp?artigo_id=480

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