Você sempre sabe um poema que não sabe que é de Drummond.
Ou todo ou parte,
mas sabe.
Pierre Januário.
Você sempre sabe um poema que não sabe que é de Drummond.
Ou todo ou parte,
mas sabe.
Pierre Januário.
Li hoje quase duas páginas
do livro dum poeta místico,
e ri como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
e os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos
dizem que as flores sentem,
e dizem que as pedras têm alma,
e que os rios têm êxtase ao luar.
Mas as flores,
se sentissem,
não eram flores,
eram gente.
E se as pedras tivessem alma,
eram coisas vivas,
não eram pedras.
E se os rios tivessem êxtase ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores
e pedras e rios,
para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras,
das flores, dos rios,
é falar de si próprio
e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus
que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos,
e fico contente porque sei
que compreendo a natureza por fora,
e não a compreendo por dentro,
porque a natureza não tem dentro,
senão não era a natureza.
(Alberto Caeiro)
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Compreender as flores,
as pedras
e os rios.
É compreender a si.
(Pierre Januário)